“Lembrar é fácil para quem tem memória. Esquecer é difícil para quem tem coração.” - William Shakespeare
Mémoire (memória para nós) é o nome de um cuvée da Huré Frères. Ou, dito por eles mesmos “uma história maluca… um vinho. Um blend de mais de 30 safras armazenadas em solera, incluindo um ano em tonéis para refinar o envelhecimento.”
O nome reflete bem um tipo de Champagne peculiar e que tem ganhado espaço nos últimos anos, atendendo pelo nome Réserve Perpetuelle ou pelo não exatamente preciso “Solera”, em referência ao sistema de envelhecimento de Jerez. Mas afinal, o que é isso? O que esperar destes vinhos?
Todos os anos os produtores reservam parte do vinho da safra colhida. As grandes casas de Champagne conseguem reservar esses vinhos separados por safra e algumas até mesmo por parcela colhida.
Os menores produtores, todavia, seja pela menor produção, seja pelo menor espaço em adega, não podem se dar a tal luxo. Assim, alguns têm criado um sistema de blend de vinhos de reserva de safras anteriores, lá conhecido como Réserve Perpetuelle (chamaremos de RP doravante para facilitar) ou Solera, em uma quase sempre imprópria referência a Jerez.
Por este sistema, a cada colheita o produtor adiciona o vinho da safra corrente ao tanque ou barril do vinho destinado à RP e depois retira a quantidade de vinho reserva já misturado para engarrafar seu Champagne non vintage.
Naturalmente, conforme o número de safras adicionadas ao blend aumenta, a RP vai ganhando complexidade e textura, sem perder seu frescor, já que a ela se incorpora normalmente boa quantidade de vinho da própria safra. Uma Réserve perpetuelle pode ser encarada como uma história líquida.
“O tempo é um vestígio da eternidade”. - Santo Agostinho
A maioria dos produtores que adota tal sistema o utiliza na composição de seus nonvintage. Pierre Péters produz um champagne NV “Cuvée de Réserve” adicionando 40-50% de sua RP ao vinho da safra em produção. Sua RP começou 1997. O Cuvée Prestige de Claude Corbon, “Brut D’Autrefois” é resultado do blend de 50% do vinho base de um determinado ano com 50% de sua RP.
Poucos produtores preferem fazer vinhos exclusivamente a partir de suas Réserves Perpetuelles. Além do já citado Mémoire, podemos citar Cuvé 38 da Henriot, Reflet d’antan, da Bérêche & Fils e o Cuvée Divine, da Lecrerc Briant. Aliás, o Divine faz referência em seu contrarrótulo ao termo “solera”. Mas afinal, é apropriado o uso do termo? Isso é tema para outra conversa, com um complexo reserve perpetuelle na taça.
Sensacional, como sempre.