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  • Foto do escritorCarlos Stoever

As castas de Champagne

Atualizado: 3 de mai. de 2021

É mais do que comum ouvir apreciadores de vinho bradarem sobre as 03 uvas permitidas na região, entoando quase como um mantra Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier.


Até mesmo após uma visita a uma Grande Casa da região, a ideia da utilização apenas dessas 03 uvas ficará reforçada – eis que será dito claramente que são apenas elas as utilizadas para a confecção de seus rótulos.


Plantações em Champagne


Em muitos cursos sobre vinhos a experiência não será diferente e aprenderemos sobre as três castas como exclusivas para produzir um vinho em Champagne.


As duas primeiras são grandes conhecidas do consumidor em geral, já a última sofre pela raridade de se ter um vinho tranquilo vinificado apenas com ela – ou você já bebeu algum vinho tinto 100% Pinot Meunier? (Nós já...)


Aliás, fomos advertidos por um funcionário da Ruinart acerca de sua denominação: “Apenas Meunier”, disse ele. “Estudos recentes demonstram que ela não possui qualquer familiaridade com a Pinot Noir”.


Bom, a partir de agora, vamos seguir o que ele disse.


Além dessas 03 cepas, existem outras 04 uvas autorizadas em champagne, todas brancas: Arbane, Petit Meslier , Pinot Blanc (ou Blanc Vrai) e Pinot Gris (também chamada de Fromenteau ou Enfume).


Tais uvas perderam sensível espaço em Champagne durante o passar dos anos, representando hoje por menos de 1% da área cultivada.


E isso se deu por uma razão muito simples: seu baixo rendimento nos vinhedos.


Nos tempos em que Champagne ainda era produtor apenas de vinhos tranquilos, a Pinot Gris chegou a responder por 50% da área plantada... Porém, ao atingir o sucesso e ter incrementada sensivelmente sua demanda, os produtores optaram pelas variedades de maior rendimento.


Em Champagne, estamos na terra dos negociantes de vinhos – grandes casas que compram uvas para vinificar e vender sob seus próprios rótulos, em uma escala superior a qualquer outra região do mundo.


Como o pagamento é feito por quilo de uva, quanto maior o rendimento, maior o faturamento do produtor.


Também estamos na terra do blend e do licor de expedição, fortes instrumentos para correção de problemas de maturação das uvas – assim, os produtores podem colher suas uvas menos maduras e, consequentemente, com maior rendimento.


Novamente, maior rendimento é maior faturamento.


E assim as outras 04 variedades foram sendo esquecidas – a ponto de sequer serem mencionadas no site oficial do Comite Interprofessionnel du Vin de Champagne, principal regulador do mercado local.


Mas isso não quer dizer que sejam uvas de qualidade inferior!


É sabido que a Chardonnay confere acidez e estrutura ao vinho, enquanto a Pinot Noir dá elegância, aromas e corpo, deixando para a Meunier a tarefa de agregar a fruta em si.


As demais castas esquecidas aportam uma gama mais exótica de frutas e aromas vegetais, fazendo vinhos bastante peculiares - alguns produtores referem ainda uma acidez crocante, com vinhos mais vivos e intensos.


A Pinot Blanc, típica da Alsácia, vem com tons florais e de mel fresco. Um bom exemplo de champagne desta cepa é La Bolorre, de Cedric Bouchard, na Côte des Bar. Outro, também de lá é o Unique, cuvée de Pierre Gerbais, que pode ser encontrado no Brasil.


Já a Petit Meslier – que ainda reluta no Vallee de la Marne – é uma cepa de grande acidez, com aromas vegetais que remetem à Sauvignon Blanc. É difícil vinificá-la sozinha em champagne, mas a Duval Leroy obteve sucesso em 1998 e 2005.


Por sua vez, a Pinot Gris atua no vinho de forma muito semelhante à Meunier, agregando fruta madura e corpo.


Por fim, temos a Arbane, casta típica de Aube, na Cote de Bar, e que lá encontra produtores entusiastas em seu cultivo: Moutard e Olivier Horiot têm a audácia de produzir cuvées inteiramente de Arbane.


Arbane

Ela tem um caráter bem peculiar, rústico, deixando um final quase metálico por vezes.


O mais comum é termos produtores as utilizando em blends, como faz a Moutard em sua 6 Cepages, Oliver Horiot em sua 5 Sens, e a Drappier, no rótulo Quattuor, um Blanc de Blancs que só não leva a Pinot Gris dentre as brancas permitidas.



Champagne Moutard - cuvée com 6 das 7 castas

Com o aquecimento global, os produtores tem percebido um melhor amadurecimento destas cepas, trazendo-as de volta aos holofotes em Champagne, especialmente na Cote de Bar.


A surpresa ao saber destas outras 04 variedades é geral – comparável apenas à surpresa em saber que existem outros tipos de vinhos com AOC dentro de Champagne, AOC Coteaux Champenois e AOC Rosé des Riceys, mas isso já é tema para outra conversa.


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1 Comment


Thiago Fidelis Alves
Thiago Fidelis Alves
May 04, 2021

🙌🏼🙌🏼👏🏼

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